Em tempos de redes sociais e o domínio dos dispositivos portáteis, o trânsito da informação limitada a um número reduzido de caracter...
Em tempos de redes sociais e o domínio dos dispositivos portáteis, o
trânsito da informação limitada a um número reduzido de caracteres significa o
sacrifício de nuances bastante sutis. A economia de detalhes cruciais pode
comprometer compreensão adequada de fatos históricos. Uma noção superficial sobre um tema não
assegura uma reflexão razoável.
Outro aspecto curioso é que a cada dia, a história se torna cada
vez mais contemporânea das tecnologias, onde os fatos mais atraentes são sempre
os mais “frescos”. Como se quanto mais antiga a imagem, menor a sua resolução. Some-se
a isso a tradicional memória curta dos brasileiros...
A década de 90 foi uma das mais importantes na história recente do
país, embora muitos tentem resumi-la numa simples frase. Os desafios eram
enormes e a estabilização da economia era apenas um deles. Os feitos da equipe
econômica que integrava o governo Itamar Franco são resumidos ao Plano Real. Embora o controle da inflação tenha sido o
fato mais notável, os desafios do governo seguinte eram bem maiores:
desencadear o processo de crescimento da economia brasileira.
O governo de Fernando Henrique Cardoso foi marcado por profundas
transformações na economia e o maior desafio era inserir o Brasil numa economia
de Livre Mercado. Para alcançar este objetivo, foi preciso promover a
desindexação da economia e assegurar o controle do câmbio.
Apesar da economia estabilizada, ainda não existia um regime de
metas de inflação. O equilíbrio das contas públicas exigia a criação de uma lei
que impedisse que os estados gastassem mais do que arrecadavam. Não existia política
de superávit primário para viabilizar a redução gradativa das dívidas interna e
externa. Os bancos enfrentavam o desafio de se adaptarem á uma nova realidade
sem o lucro fácil da inflação. Além de conter o crescente déficit
previdenciário, o governo precisava viabilizar recursos para investir em infraestrutura.
Não havia como inserir o país na economia de Livre Mercado e atrair
investimentos estrangeiros sem resolver uma série de questões. Entre as
soluções, estão a Lei de Responsabilidade Fiscal, que pôs fim à gastança
desenfreada dos estados e municípios, o Fator Previdenciário que diminuiu os
sucessivos rombos da Previdência e o PROER, que evitou quebradeira dos bancos
federais, que entraram em colapso com o fim da inflação.
Todos estes projetos, incluindo a criação do Real, sofreram forte
oposição do PT, que posteriormente se beneficiaria do eficácia dos mecanismos
criados nos anos 90. Os mecanismos do PROER ajudaram o governo a evitar os
impactos da crise econômica mundial de 2008.
Mas o governo FHC precisava superar uma série de desafios para
agregar novos benefícios à estabilidade econômica. Sem dinheiro para investir
nas estatais, a solução foi privatizar empresas dos setores de telecomunicações
e de mineração. A inciativa, que tinha como meta reduzir o endividamento e
investir parte dos recursos em infraestrutura, trouxe benefícios colaterais. As
privatizações tornaram as empresas mais ágeis e lucrativas. Os investimentos da
iniciativa privada propiciaram o crescimento da produção, do número de contratações e o significativo
aumento no recolhimento de impostos.
Com a implantação dos regimes de Superávit Primário, Metas de Inflação
e Câmbio Flutuante, o governo finalmente consolidou as condições ideais para
introduzir o país na economia de livre mercado mundial. Ao estabelecer o tripé
da atual e bem sucedida política econômica, o governo conseguiu atrair para
o Brasil as maiores empresas mundiais. Antes das medidas,
não existiam condições mínimas para atrair os investidores estrangeiros.
A estabilidade econômica permitiu que a população finalmente pudesse adquirir bens móveis e imóveis financiados a longo prazo com taxas de juros razoáveis. Esta nova realidade aqueceu o mercado, favorecendo a ampliação do varejo, a instalação de novas indústrias e o aumento na oferta de empregos.
Após a implantação de condições favoráveis e atraídos pela estabilidade econômica, aportaram no país gigantes como Wal-Mart, LG, Hyundai, Samsung,
Toyota, Honda, Nissan, Peugeot, Renault, Citroen, John Deere, BMW, Audi,
Mercedes, Mitsubishi e outras 117 mil empresas no período compreendido entre
1994 e 2002. Juntas, estas empresas geraram mais de 20 milhões de empregos no
país durante os governos de Lula e Dilma.
É claro que o mérito não foi apenas de FHC, mas de toda uma equipe de colaboradores. De mesmo modo, o governo se deu num espaço no tempo em que foi possível, ou necessário, adotar as medidas, dadas as circunstâncias. Obviamente, como qualquer outro governo, também ocorreram erros.
Mas considerando o conjunto da obra, os benefícios que aquele governo trouxe para o país sob o ponto de vista histórico foram bem mais robustos e duradouros. O fato é que sem as medidas duramente combatidas pelo PT, o país não teria a mínima capacidade de prosperar nos anos seguintes. Lula e Dilma colheram os frutos semeados por seu antecessor.
Também é um fato que ampliação dos programas sociais só foi passível devido os avanços obtidos com a modernização da econômica. Mas ao invés de aproveitar o bom desempenho econômico e estimular o empreendedorismo e a independência financeira das famílias, o PT preferiu mantê-las dependentes para assegurar votos. Na prática, o governo anterior permitiu que os brasileiros aprendessem a
pescar. Lula e Dilma, enquanto desviaram bilhões da Petrobras, apenas criaram a dependência de milhões de famílias, pois
o que fizeram foi apenas entregar ao povo peixe. Miúdo.
@muylaerte