Depois de ser eleito Personalidade do Ano pelo jornal O Globo, e ter recebido ontem, quarta-feira, o prêmio “Faz Diferença”, o juiz Sér...
Depois de ser eleito Personalidade do Ano pelo jornal O Globo, e ter recebido ontem, quarta-feira, o prêmio “Faz Diferença”, o juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Criminal de Curitiba, e responsável das ações da Operação Lava-Jato na primeira instância da Justiça Federal do Paraná, deu alguns recados a respeito do trabalho do judiciário. Aos que reclamam da divulgação dos resultados das investigações e das delações premiadas, Moro disse que existe um compromisso da Justiça com a publicidade do processo.
“Não é uma escolha individual, é a Constituição que determina que o processo é público e apenas excepcionalmente serão conduzidos em sigilo”, disso o magistrado.
Em seu discurso, que durou cerca de 12 minutos, Moro afirmou que não pode ” fazer promessas” de que vai “cuidar de determinada maneira, ou chegar a determinado resultado”, durante o julgamento do bilionário esquema de corrupção na Petrobras. “Posso prometer fazer o melhor para julgar o caso segundo a lei, segundo as provas que foram apresentadas, respeitando os direitos dos acusados e também considerando os direitos da vítimas e da sociedade, para todos os implicados”, disse.
Moro disse ter ficado impressionado com as manifestações populares no domingo passado. “Eu particularmente fiquei extremamente tocado pelas manifestações populares. Claro que os grupos que foram às ruas são grupos plurais, as ideias não são todas comuns, é possível ter divergência em relação a alguns posicionamentos. Mas é muito bonito, dentro de uma democracia, ver o povo na rua”, disse o juiz.
“E pelo menos aqui uma bandeira comum, até acho que dentro de uma democracia, por mais plural que ela seja, todos somos contra a corrupção. Todos somos contra o crime, e entendemos, quer estejamos no campo da esquerda, quer estejamos no campo da direita, quer estejamos no campo político do centro, nós entendemos que a corrupção tem que ser, quando identificada e provada, deve ser adequadamente punida. E eu tenho fé que, com o apoio da opinião pública, da população, nós possamos caminhar adiante com esse processo”, afirmou.
Moro se disse otimista com o resultado das investigações. “Foi mencionado aqui, anteriormente, que a democracia brasileira já enfrentou desafios muito maiores, nós vencemos uma ditadura brutal, nós também conseguimos controlar a hiperinflação, tivemos aí avanços sociais significativos nas últimas décadas, e a corrupção é apenas mais um problema. Dentro de um sistema democrático eu não vejo nenhum problema insuperável. Com o apoio das instituições democráticas e com o apoio da sociedade, acredito que nós vamos conseguir superar esse problema com tranquilidade”.
Logo no início do seu discurso, Sérgio Moro se disse constrangido por receber o prêmio, em primeiro lugar porque ainda não terminou o julgamento na primeira instância, e em segundo porque o resultado do processo não é mérito do juiz, mas parte de um trabalho coletivo envolvendo, além da Justiça Federal, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Moro foi acompanhada da mulher, Rosângela Wolff de Quadros Moro. Entre as condições para comparecer ao evento, o juiz não aceitou que fossem fornecidas passagens áreas e nem hospedagem. Ao contrário de Lula, que voa em jatinhos de empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato.